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Éramos melhores amigos

  Estávamos deitados na cama dela. Não, não era uma apenas um colchão no chão; Estávamos deitados de forma que nossos nossos pés estavam em frente do rosto do outro Assim, sobrava mais espaço para cada um pois não éramos um casal, apenas bons amigos, e evitávamos o excesso de contato físico e não precisávamos ficar em poses íntimas demais. Tínhamos uma amizade única. Éramos unidos por várias afinidades e nos acostumamos a fazer tudo junto sem as pressões das restrições sociais. Fazíamos tudo junto, até mesmo dormir. Nossa amizade, até então, era algo que se aproximava muito de amor. Para ser mais específico, era um tipo de amor singelo, sem a tensão sexual. Não é que eu não me sentia atraído a ela, que não a desejava, mas a relação física era tão desnecessária que nunca a materializamos. Éramos, afinal, melhores amigos e isso bastava. Mas aquela noite foi diferente e tornou todas as noites posteriores. Acordei de madrugada e não conseguia mais dormir. Insônia. Ficava me mexendo  incess

Neil Gaiman explicita a estupidez brasileira

Trinta e três anos atrás, durante a segunda invasão britânica nos quadrinhos americanos, o escritor britânico Neil Gaiman criou e escreveu sua obra prima, a série Sandman . Lançada pelo selo Vertigo da DC Comics, a série misturava cultura erudita com cultura pop e, através do uso de seres mitológicos, apropriados ou criados por Gaiman, explorava o tecido social e as fronteiras dos tabus, valores e práticas da sociedade contemporânea. Negros, gays, travestis, transexuais e vários outros tipos de minorias dividoam as páginas com William Sheakespeare, Lord Byron, Sonho e, até mesmo, a Morte que em sua descrição era uma jovem garota gótica. Sandman revolucionou o mercado das histórias em quadrinhos ao tratar de forma adulta e despretensiosa vários dos tabus de um mundo onde o preconceito com o diferente era institucionalizado.  Agora, finalmente após mais de três décadas, as histórias em quadrinhos estão sendo adaptadas para uma série televisiva por ninguém menos do que o pŕoprio autor que

Meu Ópio

  Agora deito-me sobre os destroços Destroços de de um mundo que não existe mais Destroços de uma vida que ficou para trás Destroços de um eu esquecido De una alma que se perdeu na multidão Você foi minha poção encantada O elixir que me devolveu a vida O encantamento que resgatou minha essência O espírito que restaurou minha existência Você agiu discretamente Me disse algo, eu respondi Logo, estava perdido dentro da conversa Logo, minha vida existia apenas dentro daquela conversa Você acabou se tornando meu ópio E a cada dia eu ansiava mais pelos momentos em que nos encontraríamos Necessitava de sua atitude De seu modo de ser ao mesmo tempo ingênua e detentora de uma sabedoria muito além de seus anos Porém, para manter as bênçãos que me dera Me vi obrigado a me afastar de ti Sem sequer meu lábios terem conhecido o gosto dos seus Sem que meus dedos tivessem sentido a textura de sua pele Mas, afinal de contas, tudo que é bom tem que findar Mas, ao te ver partir Percebi que havia sido pre

Hoje acordei em uma realidade bizarra

Hoje acordei em uma realidade bizarra. Uma realidade na qual o brasil era uma nação fascista,. Onde o governo havia se aliada às igrejas neopentecontais. onde o ódio dos indivíduos definia suas vidas e a população idolatrava um líder xenofóbico, homofóbico, corrupto e que endeusava o líder de outra nação. As ruas se assemelhavam ao velho oeste americano, especialmente a interpretação feita nos filmes de faroeste, onde as pessoas andavam armadas livremente, com seu direito legal, fazendo justiça com as próprias mãos. O direito inato de portar armas. Mais uma forma de segregação: aqueles capazes de comprar equipamento bélico de ponta e aqueles incapazes. Forma eficiente de resolução de problemas conjugais, de diferenças entre vizinhos ou simplesmente atritos do dia a dia: mete bala, tudo resolvido. É a arma como prótese, como extensão do ser humano possibilitando o homem comum ser e sentir especial, mais perigoso. Mas do faroeste falta o código de honra, a noção de que, mesmo armados, os

A nova onda de patriotismo e xenofobia

A cada dia é mais comum se ouvir comentários sobre os imigrantes e seu papel na sociedade. “Eles estão pegando os empregos dos brasileiros”, “Empregos brasileiros para brasileiros” é um discurso comum  e até mesmo o atual presidente, Jair Messias Bolsonaro, o repete frequentemente. Um descendente de italianos aposentado a mais de vinte anos, sem qualquer ligação com o “mercado de trabalho”, o repete sem entender o contexto do que está criticando. Em primeiro lugar temos a dualidade explícita na frase: o “nós versus eles”. Essa dualiade fundamenta uma identidade, a identidade nacionalista. Brasileiros versus venezuelanos, brasileiros versus haitianos. Nós, brasileiros, versus os outros, os estrangeiros. Não é uma forma nova de pensamento mas o resgate da ignorância que embasava os movimentos fascistas, nazistas, neonazistas, trumpiannos, etc. “Empregos alemães para alemães” não apenas foi base do discurso do partido nazista mas também foi o discurso xonofóbico da alemaanha dos anos 1980

A felicidade nas coisas banais

Ontem nós nos encontramos Ontem, intetagimos Inicialmente, era por obrigação Algo que para mim, mesmo não sendo prazeiroso, era normal Mas, para ele, era algo difícil Ele é uma das melhores pessoas que conheço Possui muitas falhas E, por muitas  vezes, tivemos nossos antagonismos Mas nunca fui incapaz de perceber suas virtudes Ontem, estávamos em um contexto que, para mim, era familiar Mas, para ele, era completamente estranho Talvez seja minha falta, a necessidade de poupá-lo das dificuldades que, para mim, eram apenas rotina Ontem, eu a levei até a maca, acompanhei o anestesista, segurei a mão dela e fiz cafuné até que ela perdesse a consciência Ontem, passei o dia com ela Ou quase todo o dia Meu corpo me traíu E me vi adormecendo Sem forças para manter aquele ritmo repetitivo e letárgico Ontem ela me pediu para passar a noite com ela Com o coração partido confessei Tinha coisas a fazer, compromissos a cumprir Ela é meu centro, mas a vida é formada por periferias Prometi o retorno O

Don Juan de biarticulado

Ele passou pela porta do ônibus biarticulado gingando, quase que dançando. Seu corpo deslocáva-se em um ritmo constante. Seu olhar escaneava tudo ao seu redor. No fundo do ônibus, percebeu a existência de uma bela garota, em seus vinte e poucos anos, com um olhar doce e um sorriso meigo. Sem alterar sua ginga, ele sentou-se ao lado dela enquanto seus olhos a analizavam, novamente, mas com muito mais engajamento, dos pés à cabeça. Ela, sem perceber a visão objetificante, o encara, explicitando seu desinteresse extremo à postura de consumismo sócio cultural de baixo calo.